Chacundum é um blog em dolby-stérico de Cláudio Reston, designer-músico e sócio da Visorama Diversões Eletrônicas.

4 de nov. de 2001

Já que temos Marcus Miller no cardápio da semana, vou relembrar o show que assisti há uns anos atrás.

Em minha humilde opinião, Marcus Miller está entre 'os 5 maiores baixistas do mundo de todos os tempos o tempo todo'. É o músico que eu gostaria de ter sido (quem mandou não estudar?). Além de versátil, sabe dosar punch, groove, suíngue, virtuosismo e sutileza, em medidas perfeitas, sem excessos. Seus solos avassaladores e percussivos, e a timbragem de seu Jazz Bass (customizado por um gênio da luthieragem) fazem levantar até cabelo do dedão do pé.

Marcus Miller esteve no Brasil em 94, no Free Jazz Festival - na época, no saudoso Hotel Nacional, hoje entregue às traças. Foi um show memorável, e entrou para meu Top 10. Veio muito bem acompanhado: dois tecladistas (depois eu lembro dos nomes), o poderoso Foley e seus solos dissonantes no baixo picollo, um trompetista, um saxofonista (Kenny Garret) e - pasmem - dois bateristas (o lendário Lenny White e Poogie Bell). Além disso, contou com as participações pra lá de luxuosas de Al Jarreau, Joe Sample e Djavan. Foi um daqueles momentos lindos, que a a vida passa a valer mais a pena.

Como todo show de instrumentista, a platéia é sempre uma piada. Músicos por todos os lados. Na minha fileira (era a 4a. do teatro), por exemplo, só tinha baixista. Lembro até a ordem: eu, meu irmão (tambem baixista), Zé Eduardo, o saudoso professor e mestre Nico Assumpção (que Deus o tenha), Leonel, Ciro, e por aí vai. Os papos então, totalmente previsíveis: 'E aí, beleza? Tocando com quem? Veio ver o mestre, né?' Músico é uma desgraça, quando não tem o que dizer, o papo não vai além disso.

Se não me falha a memória, o baixinho iniciou os trabalhos com Panther, de seu primeiro disco solo. Já valeu cada centavo pago. O show foi crescendo, e ele revezava entre seu Jazz Bass e seus fretlesses. As vezes tocava com os dois na mesma música, alguns de 4, outros de 5 cordas, e até mudava a afinação do instrumento durante os solos. O diabo.

Talvez o ponto mais alto da noite tenha sido a música Tutu, de outro mestre, outrora parceiro de Marcus. Tutu é uma de minhas músicas prediletas. É dificil explicar o porque. Apenas ouça e tire suas próprias conclusões. Estou torcendo com todas as minhas forças para que ele toque na terça-feira. Faria um sujeito muito feliz.

Lá pelos 50 do primeiro tempo, entra a primeira participação: Joe Sample. Em seguida, Al Jarreau se junta à trupe, cantando uma versão de... hmmmm... My Favourite Things? Ou seria Take Five? Não me lembro exatamente agora... Cantou mais algumas, seguido de mestre Djavan e sua filha, numa versão de Faltando um Pedaço. Lindo lindo lindo.

Fim do espetáculo. O povo pede bis. A voz do povo é a voz de Miller. A turma volta com... Teen Town. Faço minhas as palavras de um espectador, após a primeira passagem do tema: 'desculpa, tá?'. Nesse momento, o show já podia ter acabado, que voltariam todos felizes para casa, sem dar um pio de reclamação. Mas não, reservaram uma agradável surpresa para a felicidade dos presentes: fecharam a noite com toda a turma no palco - Joe, Al e Djavan, todos juntos - numa versão inesquecível de Mas Que Nada, de Jorge Ben. E o teatro de pé, cantava de pé: 'ôoooooo ô ô ô ôoooo a rí áaaaaaa áiôooo obá, obá, obá'. Cai o pano, acendem as luzes. E sai da minha frente que eu quero passar.

Comentário mais ouvido após o espetáculo: 'Eu vou vender meu baixo'.

Quase chorei.

Inesquecível.

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