Chacundum é um blog em dolby-stérico de Cláudio Reston, designer-músico e sócio da Visorama Diversões Eletrônicas.

17 de out. de 2002

Programa de quarta a noite: shows do Casino, Maurício Negão e Leela no Ballroom, o popular Baurú.

Aproveito para tentar resenhar sobre essas 3 bandas. Sempre me sinto melindrado ao comentar boas bandas, pois sei o quanto é difícil manter uma nesse país, e crítico nenhum entende isso. Quando tenho amigos nessas bandas então, fica mais delicado ainda traçar qualquer comentario que não seja 'o máximo, lindo, maravilhoso!!!'. O medo de magoar é grande, mas nesse caso não tem frescura, pois falo como fã incondicional.

E não reparem o portuga. Como esse blog serve também pra eu errar na concordância, usar acento grave quando não se deve e escrever 'mim' ao invés de 'eu', então vamos lá. De tanto errar, um dia acabo acertando... ou não.


Casino

O Casino é uma banda... linda. É isso. Não existe outra palavra pra classificar o som da banda. As melodias são lindas e a Cecília é uma Astrud Gilberto dos anos 00 (e acho que ela ainda não se deu conta disso). Existe também algo que poderia ser desastroso para muitos, mas que ali cai como uma luva: simplicidade, tanto nos arranjos quanto no tocar. E personalidade, muita personalidade. Há muito não ouço uma banda nacional com tanta personalidade, e isso é ponto fundamental para a longevidade de um grupo.

Em minha humilde opinião, senti falta de uma única coisa pra arrematar com chave de ouro: um produtor. Aquele cara pentelho - e acima de tudo, de fora da banda - que diz 'nesse momento vocês sentam a mão, tocam pesado e nesse outro aqui vocês extrapolam nos detalhes, nos blinzinhos e deixam tudo mais easy listening'. Sinto a banda muito contida em alguns momentos que seriam perfeitos para devastar o local. De resto, tá tudo 10.

No mais, Casa de Praia é um puta hit, o maior deles pra mim. É maravilhosa. E na Europa venderia milhões.


Mauricio Negão

O Maurício é um artista e ponto. Um guitarrista visceral, uma puta personalidade no palco e de composições muito boas. A banda é boa, muito entrosada, e passeia por sonoridades de Mutantes a Living Colour. A dinâmica é 10, os caras sabem as horas de fazer barulho e as de deixar o groove rolar. Maravilha.

Seria um show irretocável se não faltasse carisma. E falta muito as vezes. Trazer a platéia pra dentro do palco, cativar o público, ao invés de tocar como se não estivesse nem aí para aquelas pessoas (e acredite: aquele 1/100 de lotação da casa, numa madrugada de quarta-feira estava ali porque queria muito assistir o show). Esse ar 'caguei' não soa como atitude rock'n'roll, e sim como falta de. Se resolver isso, não vai ter pra ninguém.

Quem Mora Alto e República do Mate são daquelas músicas que voce não consegue entender por que não retumbaram aos quatro cantos do país. Coisas do Brasil.


Leela

Quando me disseram que era a banda de uns integrantes do extinto Pólux, torci feio o nariz. Sempre achei o Pólux uma palha, um firififi só. Quando olhei para o Ballroom e vi que naquele momento restavam apenas umas 10 pessoas (incluindo o Fausto Fawcett), senti cheiro de tragédia no ar. Mas a curiosidade e o respeito falaram mais alto - afinal, ir embora naquela hora seria uma tremenda falta de respeito com qualquer banda - e resolvi ficar. Se fosse ruim, sairia na segunda música.

E fiquei até o último minuto, impressionado. Botei rapidinho o preconceito e o rabinho entre as pernas - como é bom saber que a gente erra em nossas primeiras impressões - e entendi porque as pessoas falam tanto deles.

O motivo é simples: a banda está pronta! Sim, prontinha, embalada e etiquetada, é só mandar pra loja. Fizeram um show impecável do início ao fim, em todos os pontos: boas músicas, boa guitarragem, bateria rock'n'roll e presença de palco nota 10. Pareciam estar tocando não para 10, e sim para 10 mil pessoas. Foi de aplaudir de pé.


No mais, quando vejo essas coisas acontecendo - show na quarta-feira a noite, sem divulgação nenhuma e para uma casa vazia, só posso acreditar em uma coisa: música é, acima de tudo, amor. Muito amor.

E se a pessoa é para o que nasce (alô Berliner), no caso do músico isso se eleva a décima potência. A admiração e a inveja, a crítica destrutiva e a ovação geral caminham o tempo inteiro com todos que resolvem seguir essa vida. E seguir em frente mesmo assim, é no mínimo, admirável.

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